Human Rights Through the Looking-Glass: ‘Black Mirror’

Em março tive a oportunidade de operacionalizar um projeto piloto que estive a desenvolver em colaboração com a NHL Stenden University of Applied Sciences, dos Países Baixos. A proposta partiu de uma inquietação comum: de que forma podemos fomentar o pensamento crítico em torno dos valores europeus, numa era cada vez mais atravessada por dilemas tecnológicos e transformações culturais? Para isso, decidimos criar um espaço de diálogo transnacional que unisse colegas e estudantes interessados na análise cultural dos direitos humanos e da inovação tecnológica.

O ponto de partida foi a visualização conjunta de um episódio da série Black Mirror, mais concretamente o epsódio Arkangel (S04E02), cuja pertinência discursiva nos pareceu evidente. Ao colocar em cena a vigilância parental elevada ao extremo, o episódio desafia-nos a pensar nas fronteiras entre proteção e controlo, entre cuidado e opressão — a cultura digital e tecnológica. A escolha da série também não foi inocente: Black Mirror tem-se afirmado como um dos objetos culturais mais relevantes para pensar criticamente os impactos da tecnologia no tecido social contemporâneo.

A atividade teve duas fases. A primeira envolveu a visualização assíncrina do episódio e um momento de partilha pós-fílmica entre colegas com diferentes percursos e experiências. A segunda decorreu no dia seguinte, num encontro online com participantes da NHL Stenden. Essa sessão de discussão abriu espaço a leituras diversas, atravessadas por experiências culturais distintas, que enriqueceram profundamente o debate. Foi particularmente interessante perceber como a ficção científica, tantas vezes encarada como entretenimento, pode servir de catalisador para reflexões éticas, sociais e filosóficas. Vários tópicos emergiram com força nas discussões, tais como:
  • o modo como as experiências pessoais influenciam a leitura da ficção;
  • a importância da liberdade e da autonomia individual;
  • o papel da cultura tecnologica na constituição do sujeito e na estruturação das relações sociais;
  • a urgência de um olhar atento e crítico sobre a forma como os direitos humanos são (ou não) respeitados no contexto digital.
O Clube para a UNESCO de Inovação e Desenvolvimento Cultural, que acompanhou esta iniciativa, teve um papel ativo na dinamização da atividade, promovendo a construção coletiva de reflexões críticas e reafirmando o lugar central da cultura na leitura dos fenómenos contemporâneos. Sinto que este foi apenas o primeiro passo de um caminho que iremos continuar a percorrer: cruzar práticas pedagógicas, análise cultural e pensamento crítico.




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